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Mostrando postagens de março, 2009

SAUDADE

A saudade nocauteia-me. Peia-me o peito, voa a mente. Atenho-me a remoer minúcias. Está distante meu maior deleite. Mas, se me infelicita um amor ausente. Estraçalha-me sórdido desamor presente. E, se a queixar-me, Ergo aos céus minha loucura, Recebo em paga inda pior ventura. Oscilo entre dois patamares: Ora as doçuras do amor, Ora o fel da saudade.

Busca da Ventura

De joelhos, rendo-me: Num pináculo hasteei mi’a ventura. Em intempestiva busca do arrebol, Desmereci a felicidade ao encontrá-la. Antegozando glória incógnita Na ferrenha fuga da inocência, vi: Nela resume-se a felicidade apetecida. E, quanto mais se busca, dela mais se foge. Fui Napoleão de mil conquistas sorvidas, Crepitando em amargura, ao crepúsculo, Horripilando em lancinantes muitos ais. Ou, entre os descartes que valem vida, Buscando quinquilharia, um catador, Que, ante as maravilhas, se arrebata.

TACADA DE MESTRE

Incorporar ao salário a verba indenizatória, administrada por suas excelências os Deputados Federais é uma vivacidade digna de políticos experientes. Instituída para ressarcir os parlamentares de despesas decorrentes do exercício do mandato, a verba deveria variar de nenhum gasto ao valor máximo. Vistas as particularidades de cada parlamentar, era de se esperar enorme variedade de quantias gastas, assim como são variáveis as circunstâncias em que vivem e trabalham os representantes do povo brasileiro. Um deputado poderia gastar todo o recurso, outros quase nada, num Brasil de tantas diferenças regionais. Afinal, um parlamentar de Brasília não tem os mesmos custos que um de São Paulo e os gastos não podem ser os mesmos em todos os meses. Acontece que a maioria cresce o olho e esforça-se para gastar tudo. E, para não exatamente gastar, mas tirar proveito da verba disponível, adota-se o expediente da falsa despesa. A nota fiscal é legítima, tudo certin

FALTOU LUZ

Deu-se o fato. Faltou energia elétrica em minha residência, dias atrás. Experimentando uma situação rara, vivemos uma inércia inicial causada pela transferência gradual entre a luz do dia e a ausência dela. Incomodou-nos o iminente escurecer. Parece que só nós estamos sem luz – disse meu filho que presenciara a interrupção do fornecimento de energia. Pelas janelas tentamos identificar semelhança entre nossa situação e a dos vizinhos. Os outros prédios estavam iluminados e isso nos impunha alguma atitude unilateral. A noite caíra. Temos vela? – perguntou minha filha. Indiquei o armário da cozinha, para onde eu as havia transferido recentemente. Acendemos uma. Uma só. Um foguinho de nada mudou radicalmente o ambiente. A eletricidade faria falta para alimentar os tantos aparelhos domésticos – da geladeira ao computador, mas pareceu-me que, na presença da luz da vela, podíamos caminhar, raciocinar, viver precariamente ... Descobrimos que nosso disjuntor geral havia caído. Era muito desig

Dia Internacional da Mulher

Por falar em Dia Internacional da Mulher, pensei em silenciar-me, receoso de dizer obviedades. Mas assim como toda mulher de verdade é graciosa, todo poeta é compulsivo. Busquei, entre meus versos, algo com que pudesse homenagear a todas as mulheres do meu mundo e a todas mulheres de todos os mundos. É essa a minha rendição a vocês, mulheres de todas as idades, de todas as cores, de todas as culturas, de todos os credos, de todos os amores ... Bailarina Balança, se lança, na dança, Na corda mais bamba Com graça, com raça Conquista platéias Revela a criança A mulher, a guerreira Passista primeira, Rodopia ligeira Flor de laranjeira Vinho na prateleira Queijo na geladeira Café na cafeteira Perfuma a rede De Deus obra e graça Do meu coração.