Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2019

Autoanálise

Também eu sou muitos. E aceito que eu seja tantos. Vivo todas as minhas máscaras, Uso todas as minhas vidas. Sou um ao viajar no amor. Transformo-me se sou flagrado. Ocultando segredos, não sou Revelando meus medos, quem sou? Besta se estou apaixonado, Louco, se meu dedão é pisado, Trêmulo diante do delegado, Divino, vendo o corpo dela delgado. Se o cruzeiro vence, sou um. Sou outro, se a raposa papa o galo. Não tenho duas personalidades. Seriam muito poucas pra mim. Sétimo de João

À sombra do pequizeiro

Um indiozinho amarelo, impúbere e imberbe Num ponto equidistante entre o que fora E o que jamais fora ou talvez nem se soubera Nunca ouvira um concerto, nem ardera em febre Um outro índio, púbere, e puro, e imberbe No meio do seu tempo, quando a vida aflora Na vastidão do cerrado, à exaustão entregue À sombra da fruteira verde, onde a onça mora Iam rememorando a lenda, um ao outro Do jacaré, de Maluá pai do indio dourado De haver chorado sua mãe Taina-racan E Uadi do céu encher o rio de matrinxã Séculos depois, nenhum nem outro sabia, Viria aquela maga do cerrado abrigar Obra célebre da humanidade, um dia E os vates da livre poesis sombrear Na imensidão do mesmo cerrado Lar de quero-queros e povos e raças Entre a modernidade e o fruto alado Criou-se o celeiro, margem das plagas De verso, de prosa, de luz, de verde E num alegre congratular domingueiro, Quem por ali passa, ao ido se rende Para congraçar, à

À poesia moderna

Tão pouco vaticinam Uns que se dizem vates Que já as pedras clamam E tu, pedregulho, augures À rédea livre corre o verso Num branco que ofusca Sem com isso ser emerso Da indigência bruta E o pobre, membros soltos, Esvaindo-se em feiura Não nos tange os sentidos Nem se impõe à altura De drumom o entrar surdo No tal reino das palavras É coisa de lexicógrafo Quem trabalha nessas lavras A Metáfora, antiquada namorada de Neruda, Num antigo cemitério, Jaz sem deixar herdeiro E assim vai-se fazendo A poesia moderna Que não é obra ou gênero Mas a peça produzida Verseteiro licenciado Tripudia a flor do lácio E ainda enclausura vivo O empanzinado eu lírico Ah, e desconjura, (ave!) Xinga, desdenha, O saudosista trouxa Que lhe dá paregórico Sétimo de João

Alívio

A bruxa foi-se Levou a vassoura Normalidade à vista Passarinho cantou O sol tá raiando Não posso dormir Ela me abraçou Foi-se a tristeza Me convém sorrir A chuva choveu a terra está fértil Já vou semear Sétimo de João

Ainda que eu

Fale língua vivas, Reviva línguas mortas Use línguas cultas Eruditas, tecnicistas, Línguas humanas Angelicais, populares, Línguas renomadas Línguas ignotas Entregue-me à penitência Dê-me ao fogo sacrificial em Voluntariosa sapiência Auto doador, meus Poucos bens distribua, Todos, sem reserva, Aos que pouco tem Ou nada ele espera. Como o sino que retine E retumba e ressoa Como sons que vão ao vento Como folha que voa Como riqueza sem lastro Como água que escoa Como sentimento à toa Nada sem amor de verdade Nada sem sentido profundo Nada sem eterno provimento Nada sem divina caridade Tudo por mera vaidade Como o ressoar de sino Do metal que ecoa: Retumba na eternidade. Como o eco oco ecoa. Com amor pouco é tudo Sem ele, tudo é nada. Ainda que ... Sétimo de João

Abutres

Uns poderosos se aninham Nas cercanias do pombal Ora em banquete se engalfinham Ora, às costas o punhal Outros poderes se rapinam Abutres e hienas confrades Sob a tríade dos poderes Cetro espada metal E o legitimo poder das praças Cultivando desentendimento Em grupos, matizes, credos Buscam inútil sedimento Tão mais facilmente Se faz manobrável a massa Quanto mais transbordante Da droga for a taça De quem a serviço está Esse ou aquele grupo Que uiva de cá e la Seu podre arrazoado Sétimo de João