Fora Dilma, fora PT?
A manifestação popular ocorrida hoje, em todo o Brasil, contrária ao
governo, na verdade não foi para se opor ao governo, exclusivamente.
Mesmo sem termos consciência disso, há uma série de ingredientes nessa
salada que é chamada governo e os que são alvos dos protestos o são com provável
justiça, mas além de o serem, simbolizam o verdadeiro alvo dos protestos.
Falo de um alvo muito mais abrangente, que são as instituições brasileiras de
todos os níveis e finalidades.
A própria nação brasileira, vê-se que não foi satisfatoriamente bem instituída.
O Estado brasileiro, se olhado a partir dos resultados que apesenta àqueles que
por ele são representados e da relação direito x dever daqueles que o operam igualmente
deixa a desejar, fruto de sua concepção como instituição.
Mas nos atenhamos a algo fundamental para o acerto ou o desacerto da
nossa existência, sob todos os aspectos, dentro dos limites territoriais
brasileiros e na nossa relação com o mundo. Falo das nossas leis.
O que quero ressaltar é a mais do que justificada expressão popular
corrente no Brasil ha décadas “o legislador brasileiro legisla em causa própria”.
Essa não somente é a expressão da verdade, mas é também a expressão de uma
tristíssima verdade. Primeiro, porque é das leis que são tirados todos os parâmetros
para o funcionamento da sociedade e, por isso, as leis teriam de ser feitas sob
a vigilância implícita da totalidade dos brasileiros. No sentido de uma
legítima representação parlamentar, é claro.
Caminhando a trilha rumo à fonte do problema, nos veremos andando em
círculo, porque a fonte e a foz, logo adiante se misturam. Mas, vejamos que um
parlamentar mal eleito é resultado de uma candidatura precariamente proposta,
por um partido político mal fundamentado, dentro de uma legislação mal
formulada. Pronto, o cachorro correu atrás do rabo.
Quando instala-se no parlamento, o novo parlamentar, desavisado mas cheio
de boas intenções (suponho) não sabe o que fazer para representar as necessidades e o
modo de pensar dos seus representados. Inclusive porque as necessidades e o
pensamento do povo muda. Então ele
recorre aos seus pares - que ele tem de tratar como aliados ou como adversários
– para entender o mecanismo de atuação na casa, visando o bom desempenho do seu mandato. Nesse momento ele encontra ou velhas raposas, como se dizia no passado ou
“frangos” recém chegados, que temem as raposas.
Para fugir dessa ciranda, nosso herói, que o povo elegeu recua e busca
apoio partidário. Mas o partido já está alinhavando conchavos para aproximar-se
do poder. Porque o objetivo de representar o povo já foi para o beleléu. Muito
pouco tempo depois ele percebe que está num circo de busca de interesses. Não
necessariamente de interesses econômicos diretos, mas de estratégias diversas para
alcance de objetivos diversos. Retribuição de favores, estratégias partidárias,
fuja do rolo compressor dos mais poderosos, etc.
Neste ponto, a representatividade popular perde o sentido e passa a ser
apenas seu empoderamento para garantir-se. Rompeu-se o fraco elo intelectual
que havia com os anseios do povo que ele veio representar.
A partir de agora, ele só trabalha para atender interesses que sempre
serão ditos legítimos e para proteger o estado de coisas que interessa ao próprio
parlamento para manter-se, porque se assim não for, deixa de existir, porque o
povo pode achar melhor dissolver o parlamento. E o povo tem de ser enganado, e
um engano puxa outro.
Como consertar isso? Legislando em favor do povo. Mas contra si mesmo?
Farinha pouca, meu pirão primeiro. E, é bom lembrar, isso tem um efeito
dominó infindo. Mas não é assunto para agora.
Comentários
Esgota mesmo.