Candidato analfa
Caso verídico de pescador
Em tempos de política miúda, em que pipocam as preciosidades, meu chefe, candidatíssimo a vereador de Rebinboca da Parafuseta, um primor de cidadezinha nas proximidades daqui, foi registrar sua candidatura.
A caminho do cartório eleitoral eu, Dr. Miúdo, seu fiel secretário, preocupei-me com um detalhe que me pareceu da maior importância. Sabendo da cultura quase inigualável de meu poderoso chefe, provoquei-o recomendando a apresentação do diploma de curso superior, tantas vezes orgulhosamente alardeado, por ser a custo conquistado.
- Chefe, aqui estão todos os documentos, faltando apenas seu diploma universitário.
- Não se preocupe, pequeno ascessor, sou um homem de muitas letras, palavras e frases, mas nunca fui buscar meu diploma. A gente passa por lá, pela secretaria da adversidade e pega.
Desempenhando fielmente meu papel de secretário particular do poderoso Doutor Xavier, ri, sabendo que ele trocava as palavras com a risível seriedade de quem está certo no que diz. Calado, ouvi-o destilar seus planos como que para a platéia do comício final da campanha.
- Vou trabalhar para inculturar meus povos, secretário. O povo pobre, o povo rico e o povo remediado. Serei um veriadouro impáreo. Sei que o povo não tem cultura pra intender, mas vou fazer a minha parte. Por falar em mim, não que eu queira aparecer, mas fiquei bem naquela foto, não fiquei, secretario?
- Ficou, chefe. Aquele fotógrafo faz milagres. (risos).
- Por falar nisso, chefe, estamos indo direto para o cartório. O senhor se esqueceu do diploma.
- Secretário, não seja tão literário. O povo não intende isso. O povo ama seu líder. Eu amo o povo. Se fiquei simpátrico na foto, eles vão votar. E eu vou surpreender você, mostrando que entendo a arma do povo. O povo gosta é de image.
Calei-me, fingindo não entender o que o chefe tentou dizer, mas ele não se conteve.
- No meu próximo discurso, secretário, vou incluir um pequeno vesículo da Bíblia... aquele ... nem tudo que reluz é couro. O povo rebinboquense é religioso.
- Ri, silenciosamente, já na entrada do cartório.
No preenchimento do formulário de candidato, o quesito grau de instrução saltou-me aos olhos. Meu chefe não vai fugir da raia. Apontando o item, provoquei-o novamente.
- Dotor, omildade é coisa que o povo apreceiam. Escreve aí: “primário”.
Em tempos de política miúda, em que pipocam as preciosidades, meu chefe, candidatíssimo a vereador de Rebinboca da Parafuseta, um primor de cidadezinha nas proximidades daqui, foi registrar sua candidatura.
A caminho do cartório eleitoral eu, Dr. Miúdo, seu fiel secretário, preocupei-me com um detalhe que me pareceu da maior importância. Sabendo da cultura quase inigualável de meu poderoso chefe, provoquei-o recomendando a apresentação do diploma de curso superior, tantas vezes orgulhosamente alardeado, por ser a custo conquistado.
- Chefe, aqui estão todos os documentos, faltando apenas seu diploma universitário.
- Não se preocupe, pequeno ascessor, sou um homem de muitas letras, palavras e frases, mas nunca fui buscar meu diploma. A gente passa por lá, pela secretaria da adversidade e pega.
Desempenhando fielmente meu papel de secretário particular do poderoso Doutor Xavier, ri, sabendo que ele trocava as palavras com a risível seriedade de quem está certo no que diz. Calado, ouvi-o destilar seus planos como que para a platéia do comício final da campanha.
- Vou trabalhar para inculturar meus povos, secretário. O povo pobre, o povo rico e o povo remediado. Serei um veriadouro impáreo. Sei que o povo não tem cultura pra intender, mas vou fazer a minha parte. Por falar em mim, não que eu queira aparecer, mas fiquei bem naquela foto, não fiquei, secretario?
- Ficou, chefe. Aquele fotógrafo faz milagres. (risos).
- Por falar nisso, chefe, estamos indo direto para o cartório. O senhor se esqueceu do diploma.
- Secretário, não seja tão literário. O povo não intende isso. O povo ama seu líder. Eu amo o povo. Se fiquei simpátrico na foto, eles vão votar. E eu vou surpreender você, mostrando que entendo a arma do povo. O povo gosta é de image.
Calei-me, fingindo não entender o que o chefe tentou dizer, mas ele não se conteve.
- No meu próximo discurso, secretário, vou incluir um pequeno vesículo da Bíblia... aquele ... nem tudo que reluz é couro. O povo rebinboquense é religioso.
- Ri, silenciosamente, já na entrada do cartório.
No preenchimento do formulário de candidato, o quesito grau de instrução saltou-me aos olhos. Meu chefe não vai fugir da raia. Apontando o item, provoquei-o novamente.
- Dotor, omildade é coisa que o povo apreceiam. Escreve aí: “primário”.
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