Pássaro Azul



Sabino Horta



Um sobrevivente retrocedia o ano moribundo
Cruzando o abismo que cada um cria
Entre os dissabores do ontem
E as incertezas do amanhã.

Saltou-lhe o coração no peito,
Afunilou-se-lhe a perspectiva ...
Quase desmoronou

Após sobrevoar os limites da alcova
Um pássaro anilado agarrou-se a uma superfície
Fitando-o com humilde superioridade:

És tolo. Jogas tua sorte ao vento.

O titubeante meditabundo
Comprimiu as pálpebras e aguçou os tímpanos.
Enquanto ambos oxigenavam-se,
O mensageiro alado balbuciou:

As dores que teu corpo sente
E as aflições que te acamam
Vêm de tua imaginação crente
De que viver é sortilégio.

Crê no amanhecer.
Crê no florescer.
Crê nos amores.

Crê no perene fervor da juventude,
Pois que a era humana, ante o céu, é ínfima.
Crê que o destino que para ti defines
Importa mais que todos os preceitos.
Crê que de Deus o infinito favor é,
Dentre todas, a glória de maior ledice.
Quem mantém o coração em sobriedade,
Maior fortuna tem do que o mundo aos pés.
Quem pratica o ódio, a si antes odeia,
E colhe-se múltiplo o amor que se semeia.

Acima e antes de tudo, saiba:
No ontem não se planta o amanhã.
Porque o que se foi, nada é.
Hoje é o único dia que te resta.

Sê hoje alvissareiro ... motive otimismo ... semeie alegria
Terás um amanhã infinitamente maior que tuas fantasias.

Um, repentino, sem despedir-se,
Somou-se, pela janela, ao infinito.
Outro inda o retroa em cada célula,
Tempo depois, inolvidável e bendito.

Comentários

Anônimo disse…
"Crê no amanhecer.
Crê no florescer.
Crê nos amores.

Crê no perene fervor da juventude,
Pois que a era humana, ante o céu, é ínfima." (...)

Quão Frágil é essa Nau!