FALTOU LUZ

Deu-se o fato.

Faltou energia elétrica em minha residência, dias atrás.

Experimentando uma situação rara, vivemos uma inércia inicial causada pela transferência gradual entre a luz do dia e a ausência dela. Incomodou-nos o iminente escurecer.

Parece que só nós estamos sem luz – disse meu filho que presenciara a interrupção do fornecimento de energia.

Pelas janelas tentamos identificar semelhança entre nossa situação e a dos vizinhos. Os outros prédios estavam iluminados e isso nos impunha alguma atitude unilateral. A noite caíra.

Temos vela? – perguntou minha filha.

Indiquei o armário da cozinha, para onde eu as havia transferido recentemente.

Acendemos uma. Uma só. Um foguinho de nada mudou radicalmente o ambiente. A eletricidade faria falta para alimentar os tantos aparelhos domésticos – da geladeira ao computador, mas pareceu-me que, na presença da luz da vela, podíamos caminhar, raciocinar, viver precariamente ...

Descobrimos que nosso disjuntor geral havia caído. Era muito desigual. Só nós estávamos no escuro. Pronto. O mover de um dedo com conhecimento de causa transportou-nos à normalidade.

Refletí ... a escuridão do desconhecimento; as trevas da insipiência; o desconforto da desigualdade gritante; a visão dos outros no seu conforto; a ulcerante sensação de não ser visto ... quem está nas trevas vê claramente os iluminados, mas esses não distinguem os sub-humanizados. Eis o porquê da distância física entre uns e outros. Não basta não ver o injustiçado. É necessário não ser visto por ele.

Mudaríamos nossos hábitos alimentares, perderíamos o contato com o mundo virtual, tropeçaríamos, reduziríamos drasticamente nossa oportunidade de leitura, nos distanciaríamos dos nossos vizinhos, nos tornaríamos tristes, humilhados, fedorentos porque mal banhados, desalinhados, incultos, sub-empregados, agressivos, intolerantes ... que susto!

Em nosso caso, acender a vela foi decisivo. Descobrimos: era só ligar o disjuntor.

Comentários

Anônimo disse…
"Fiat Lux".

Soli Deo Gloria
Unknown disse…
Oi amigão!

Nossa mas como vc escreve!

Adorei!

bjos

Anita
Edi Ruth disse…
Dizem que um hoemm um dia na presença de Cristo falou: Pai, qua fazer para sair do labirinto da terra? Tudo trevas, tristezas misérias...que fazer para alcançar a libertação?
E Jesus olhou para ele e disse: - Filho! Ascenda a própria luz!
Somples assim, né? Ligue o disjuntor!!!
bjs

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