Ou você é ou é infeliz
Em Bora eu
pouco entenda de felicidade, atrevo-me a dizer que se você quer ser feliz, deve
preparar-se para serem vocês mesmos. É isso mesmo. Se você for apenas um, teso
e imutável, a felicidade foge de você. Ela está mais para se enturmar com gente
do tipo Lima Duarte do que Faustão.
Imagine o
quanto sua mulher (ou namorada, ou amante) gostaria de desligar você num
domingo ou noutro, como faz com o Faustão. A mesma cara, os mesmos chavões, no
mesmo horário, do mesmo dia, de todas as semanas ... haja paciência!
Sua mulher
pode até não fazer você feliz por você ser um ator versátil, mas certamente ela
lhe fará infeliz se você der uma de Silvio Santos.
Agora,
imagine você “comparecer” numa madrugada com cara de Sinhozinho Malta, amedrontando a todo mundo, mas se rendendo a
ela com atitudes de submisso. Ou, num domingo à tarde, você acorda daquele sono
de feijoada e caipirinha, com uma cara de Zeca Diabo, prometendo matar seus
desafetos, mas obediente à ordem feminina de sua “santa mulherzinha”, como um
cordeiro que não berra à corda que lhe asfixia. Há ainda muitas outras possibilidades,
mas você pode representar aquele ricaço generoso e fiel até à empregada, da
novela das oito. E ai, sua mulher vai gostar. Não que ela seja mercenária, mas ama
o seu sucesso, que trás dinheiro e a sua generosidade, qualidade humana
irretocável.
Mas ha um
complicador nessa encenação: você necessita ser bom ator. As melhores mulheres
não apreciam os canastrões, mas o ator capaz de dar alma ao personagem que
representa, mesmo quando é o papel do mais incorrigível mentiroso. Logo, só é
eficiente a sua representação quando todos os personagens representados são
verdadeiros para você. Ou você representa com maestria o mentiroso que você é
ou ela finge acreditar. Melhor do que isso, saiba separar os seus diversos eus
e apareça pra ela sempre sendo um deles, convincentemente.
Agora, se
você quiser representar mesmo, de verdade, em todos os lugares e
circunstâncias, imagine essas duas situações: você num bar com os amigos,
tomando todas e falando mal do seu ambiente de trabalho e você com aquele chefe
que você malhou na sexta, numa convenção em que o chefe é a estrela e você é
pago para ser coadjuvante. Para ser feliz, você tem de ser um ator talentoso;
muito talentoso.
A vida é um
palco, amigo, onde cada um de nós tem de representar. O sucesso está em
representar o mais fidedignamente a si mesmo, embora você seja muitos.
Sabino Horta
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