Jornalismo de mentira.


O jornalismo praticado pelos grandes veículos é tendencioso, sim. Um fato simples: vi entrevistados septuagenários e octogenários, alguns arrastando-se, fazendo questão de votar, mas não vi, na televisão ou no rádio, um eleitor sequer, que se recuse a votar, sendo mostrado, com seu arrazoado.
Um programa concebido para reportar uma faceta da sociedade mostra somente aquela. Se é crime, mostra, repete, massacra-nos a sensibilidade, pragueja, desqualifica, julga o acusado. E, para ressaltar a desqualificação desse, bota acima a vítima.  Na eleição, fica a impressão de reinar absoluta a nossa brasilidade; de que não há sequer um brasileiro inconformado com o quê ou como está acontecendo. Sabemos que não é assim.
Significa que, ao pautar a matéria, o chefe diz: traga-me matéria contra – aquilo que ele quer provar ser ruim e traga-me muitas opiniões favoráveis – se ele quer provar que é bom.
Entro num posto de combustíveis e, como tenho o costume de sair do carro, conversar com quem me atende, um câmera foca-me, antes de eu pensar em que fato estaria motivando aquela agressão à minha liberdade. Uma repórter, microfone em punho, paramentada para ser vista pelo grande público fuzila-me com a pergunta: “o que você (ou teria dito senhor?) acha do aumento da gasolina? Eu respondo: normal. Sobem os salários, sobem outros custos, é o mercado.  E ela: você gosta? Eu não disse que gosto. Eu acho normal. Talvez pelo meu nível de espontaneidade e diante da impossibilidade de tirar de mim o que a TV dela queria veicular, ela sentencia: Desliga. Ele está de gozação comigo. Eu, que não costumo deixar por menos, cato pedras no meu vocabulário e atiro: você mete essa câmera na minha cara, sem sequer me dizer bom dia e quer que eu responda a seu modo. Vocês não tem respeito com ninguém e não publicam opinião, querem elogio.  E vá à merda.
Foram.
Agora, enfrento a crítica (educada, é verdade) do frentista: você foi agressivo com ela. Esse diálogo não interessa a este artigo, mas saibam que ele ouviu-me. Como eu era o cliente e há a falsa máxima “o cliente tem sempre razão”... mas ele esperava que eu alimentasse a matéria contra o reajuste da gasolina.
Aproximo-me de um jovem repórter em frente ao Conjunto Nacional e aceito seu convite educado. O que o senhor acha da proposta em trâmite na Câmara Legislativa, de aumento da verba de gabinete.  Se forem dar a destinação correta ao dinheiro, concordo. Mas eu divido de que assim será. Então, que fique claro que aumentar a verba não deveria ser a questão, mas a aplicação correta dela. Qual é a sua profissão (?), perguntou-me o jovem repórter. Jornalista, respondi. E ele: só podia ser. Disse fora do microfone, é claro. De que ele tenha veiculado minha fala, duvido.
Não creio que o nosso jornalismo corporativo possa ser grafado com maiúscula.  E se digo-o não o digo por coragem, mas pela comodidade do meu anonimato.
Só resta-me defender prestígio para quem faz jornalismo independente, quem prima pela notícia, quando for noticiar e para quem, ao opinar, fala por si mesmo, com coragem, responsabilidade e respeito. Profissionais que mostram os fatos.
Imagine verdades nuas e cruas sendo ditas para que o povo decida. Podemos optar por esse caminho rumo a um Brasil que se reconheça, que tenha cara e que a bote a tapa. Porque está rolando um jogo perigoso e, se os que noticiamos continuarmos nele, quem poderá acabar com ele.

Hézio Teixeira

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