O Livro


Se a mais importante invenção da humanidade é a roda, o livro ocupa, sem dúvida, o segundo lugar. Até mesmo a roda poderia ter caído no esquecimento, se o livro não fosse inventado.
Imagine o mundo sem livro. Como saberíamos de Jesus Cristo, do Profeta Mohamed (ou Maomé), de Voltaire, Maquiavel ou da história egípcia? De que outra forma, seríamos presentados com os enredos maravilhosos de Dostoievski, ou com o Banquete de Platão? Como renovaríamos nossa infantilidade, sem ler “O Pequeno Príncipe” de Exupery ou saberíamos da previsão de “1984”, de George Orwell? Por qual meio, nos deliciaríamos com os poemas de Pessoa, Cora Coralina, Patativa do Assaré, ou com as peripécias geniais de “Don Quixote de La Mancha” de Cervantes? Como leríamos os contos machadianos e de Lygia Fagundes Telles? Cem anos de solidão, O velho e o mar, Memorial de Maria Moura, O legado da loucura, O destino de Roncô, Os sertões ... como?
São tantas preciosidades em forma de livro que não caberia em livro algum. Macro livros, micro livros, livros de culinária, medicina, literatura, odontologia, prótese, autoajuda, didáticos, de fofoca, história, política, de poesia (Ah, a poesia!) ...
Desde quando a humanidade era incipiente, o livro nos acompanha, corrige, guia, consola, diverte, ensina, adverte, encanta, enternece, enfurece, penetra, compenetra.
Desde que aprendemos as primeiras letras, é num livro que viajamos a viagem sem volta do conhecimento, da disciplina, da cidadania, do amor e da sabedoria. Quem pode negar que o livro é amigo do menino, do adolescente, do adulto e do velho.  E não tem religião, nem raça, nem língua, nem nacionalidade. O livro está em todas as culturas que dispõem da escrita.
Há bilhões de livros centenários atualíssimos ou sendo gestados agora: de literatura merecedora de Oscar a livro do escritor esforçado, mas pouco talentoso. O livro é assim: companheiro das mãos suadas do lavrador e dos dedos finos dos gabinetes climatizados. Sem preconceito, sem reserva, sem limite, o livro é alvo de amor e de ódio, mas não se rende nem aos poucos que o odeiam e aos muitos que o desdenham. Nem se consome à esperteza dos que o querem banalizar pelo perigo que representa. O livro é digno de si mesmo, onde quer que esteja, quer em uso, quer em desuso. É imponente, resoluto e inapagável, seja no papel, seja na memória dos que o lemos.
Assim, tão útil e nobre, devemos-lhe distinção e respeito superior ao dedicado aos ídolos e aos poderosos. A mais importante das invenções humanas (agora o digo) merece que o tratemos com seriedade total. 
Quem o lê, o compreenda-o. Quem o escreve, faça-o compreensível e desejável, instrumento veiculador de ideias e de ideais sim, democrático, mas também disciplinador e respeitador da língua em que é escrito ou para a qual é traduzido. Não há mais refinada honraria que essa, a ser dada a esse nosso maior amigo objeto vivo.
Quem não lê, corra, porque a jornada é longa.  Quem dedica tempo a um livro dedica-se ao melhor de si mesmo.

                                   

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