Miragem



Entre alegre e pasmo, repentino paro,
A delirar ante o etéreo instante.
Fito o olhar, aguço o olfato. E cismo.
O fervilhar d’uma paixão m’invade.

Do coração, o impulso ignoro:
Içaste teu pendão, agora avante!
Contenho terrível comichão,
De mergulhar numa aventura infame.

Olhar sinistro e ingênuo esse,
A pendular entre convite e desafio.
Da razão surge um sonoro “foge”!
Ou far-te-á tolo teu desejo.

Vendo-me em desalinho, desprendida,
Num sorriso sedutor, a miragem me diz:
Vejo-te imaginando coisa bela.
Correr trilha longa de variado matiz.

Bebendo o olor que lhe empesta o lombo.
Pergunto só em pensamento
Dar-me-ás achego em tua alcova,
botão que entre espinhos mora?

E ela, astuta, quase adivinhando:
Se me mandares u’a lembrança bela,
Dou-te em paga uma corrida louca

Dependurando em ti o meu cansaço.

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