Opinião...
O que vai emergir do caos
A pergunta que volta e meia
emerge, levantada por voz de alguma sensatez, sim, é preocupante para quem não
busca o poder por sede dele, mas busca a normalidade, distante da confusão em
que estamos metidos.
- Saindo a Dilma, a quem será
entregue o poder? Ao Temer, ao Cunha, a quem?
Faço antes outra pergunta: a quem
será entregue a responsabilidade de juntar as peças, montar novamente o câmbio,
engatar a marcha forte, acelerar com as mãos no volante, olhos firmes no para-brisa,
o ouvido atento às ruas e uma olhada recorrente no retrovisor, tudo isso sem
desligar o motor?
Entregar o Brasil a quem
colaborou para o caos seria, no mínimo, um ato de desespero motivado pela
ausência de um nome isento, preparado, conectado com a realidade; e isso
tenderia a aprofundar a crise.
Como os sucessores naturais, uma vez decretado o impedimento, estão todos envolvidos com a justiça ou suspeitos
de falcatruas, passamos a pensar em eleição antecipada, mas com quais candidatos?
Aécio está no olho do furacão e é parte interessada, Marina Silva saiu
enfraquecida das eleições e é oriunda da base do PT, Bolsonaro – um nome que
cresce numa boa parte dos eleitores – não tem maturidade política para entrar
na disputa, o PSDB não tem nem unidade partidária nem liderança e o PT
tornou-se a cara da crise. Dos outros
grandes partidos, embora todos sejam igualmente importantes, não vejo nada a
esperar agora.
Dos nomes que já estiveram na
linda de frente, que experimentaram o embate de uma eleição presidencial,
experientes em cargo legislativo e executivo, com suficiente nível intelectual
vejo apenas o senador Cristovam Buarque. Seria o político capaz de barrar a onda
de oportunismo que ensejaria uma disputa no desafogo da hora.
Não é o momento para radicalismo
de direita nem de esquerda. É urgente a
preparação para o que virá. E o tempo é célere; e os fatos são marcantes; e a
situação é grave. Nosso candidato tem a missão de entrar em campo buscando unidade
e profunda compreensão. Começando talvez por uma conversa de pé de ouvido com a
OAB, porque a maior gravidade do momento é a desordem institucional que teima
em se instaurar.
Na sequência, deverão ser
procurados os partidos políticos menores, para compor pela base, minando o rolo
compressor das siglas grandes, até que se dê o momento de obter apoio onde
houver.
A partir daí, é claro, a prudência manda que sejam
preparados líderes setoriais: economistas, sanitaristas, educadores, contadores,
militares, administradores, ...
Muitas outras ações serão
fundamentais, que não são para ser listadas aqui, mas outra há que tem de ser
trabalhada desde já: a unidade dentro do seu partido político atual ou de outro
pelo qual ele venha a militar nessa direção, objetivando uma militância coesa e
consciente.
A pergunta que surge agora é: e o
senador, professor Cristovam Buarque, aceitaria colocar-se nessa linda de
batalha? Há que se perguntar a ele, mas eu tenho cá a minha intuição.
Não o vejo com sede de poder nem
como um medroso que fugiria da responsabilidade político-cidadã, embora entenda
que a envergadura do momento é grande e o calado do navio chamado Brasil também
o é. Carece de práticos menos gananciosos para colocar o navio no mar aberto e
de um comandante capaz de retraçar a rota e comandar os embarcados.
Há urgências e há emergências, há
enfermidades estruturais as há conjunturais, mas creio que a quase totalidade
dos brasileiros deseja e dispõe-se a trabalhar por um novo Brasil. Por um novo
conceito de nação. Um Brasil que deixa claras as responsabilidades individuais,
coletivas e institucionais, que cumpre seus deveres primeiro, para depois buscar
seus direitos.
Acima de tudo, o que, creio, os
brasileiros esperam é que quem vier a assumir o poder, surgindo do caos, tenha
profundamente arraigado em seus princípios o governo como missão, como
responsabilidade, não como privilégio.
O que espero, então, que surja do
caos é uma nova sociedade brasileira que se contradiga e se oponha em busca do
consenso, que imponha limites e os respeite.
Que surja do caos uma liderança
sóbria, mas também enérgica e sábia, que faça o Brasil respeitar-se
internamente. E o mundo saberá reconhecer-nos como nação, não apenas por um ou
outro líder. Porque os líderes passam,
mas o Brasil fica.
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