Vade retro!


A batalha do Conde Drácula contra o Filho do Açougueiro
Sétimo de João.


Olha o filho do açougueiro
Que sujeito sacana!
Compra boi e vende carne
Seu pai fundou o matadouro.
Por dinheiro tira o sangue e
Cospe no prato em que come

Lá atrás, quando esta vida
Era um pouco mais decente
E o desejo de riqueza
Era algo diferente
O homem trabalhava era
Cuidando pra ser decente

O tal filho do açougueiro
Dele não falo o nome
Nem dele piada faço
Por medo de meter-me
Numa terrível enrascada
Nesse ninho de serpente

Na society foi-se meter
Era picanha com uísque
Sempre com gente que manda
Sua ganância a corroer
Pra crescer, virar gigante
Achou o mapa da mina

Abatendo milhões de cabeças
Fabricando de sal a mel
Chocolate, Perfume, chinelo,
Comprou até consciências
Pegou dinheiro do Brasil
E investiu no estrangeiro

Meu filho para com isso
Essa gente é poderosa
É feito cutucar bicho
Peçonhento com vara curta
Uai, meu pai, o sinhô acha
Que deixo barato essa sangueira

Fio, no Conde Drácula
O perigo se esconde
E quem deu a ele esse posto
Foi um tal que é sem mácula
Nele só pega codinome
Se diz anjo até no rosto

Esse tal com toda fama
De ser raposo tinhoso
Numa trama bem urdida
Liberou grana do povo
Pra muito beneficiar
O filho do açougueiro

Com aquela grana toda
Todo mundo cresceu o olho
Dá-me grana pra campanha
Dá pra isso e praquilo
Até o cara de Minas ...
Depois diz que era emprestado

Haja carne, haja sangue
Haja político pra pedir
E ele, dando e dando
Nesse tempo, o tal de Conde
Querendo se garantir
Tramou e assumiu o trono

Duma coisa a nação
Que quer tornar-se justa
Nunca jamais se esquece:
Não conhece o ganancioso
Nem amor a causa alheia
Nem pra si mesmo limite

E é por isso mesmo
Que cresce, sobe, goza
E muito enriquece
Pra subir, pisa no outro
Tudo que quer ele faz
A louca trama ele tece

Menino me dá meu sangue,
Busca lá no seu açougue,
Que já tô morto de fome.
O filho foi consultar
Seu padrinho dezenove.
Arquitetaram um plano

Foi conversar com o Conde
Mas era gravando tudo
Tô comprando uns cara aí
Onde eu entrego o sangue?
Quem é seu mensageiro?
Quer que eu cale quem pra ti?

Marcaram de encontrar.
Um cupincha metidim.
Saiu da churrascaria.
Feito cabrito a pular
A sua mala cheinha
500 litros de sangue

Agora, disse-lhe o Conde
Mande calar a boca
Daquele preso escargô
Que demais ele sabe
Se ele abre a caçapa
Me esfaqueia do janô

Pode deixar, Come Sangue
Vou comprar seu silêncio
Quero ver se ele fala.
Ainda vou encher o tanque
Dum “procura” e dum tribuno
Bolso cheio, a boca cala

Tava é muito facinho
Se achava, o Conde
Se até Mané pede e ganha.
Porque eu sou sabidinho ...
Saibam que sou o Conde,
Não ou encher minha burra?!

Acabaram aquela conversa
Nos porões do Canguru
O filho do açougueiro
Sorriu ouvindo a fita
E o Conde Urubu
Deitou-se com a Citrolena

No outro dia cedinho
O mundo inteiro soube
Como é que aquele menino
Enganara o sabido Conde
O condado todo fedeu
Assim que amanheceu

E Citronela, coitada
Doida pra dar um creu
Esperava há centos dias
Que o Conde velho demais
Às vezes comparecia
Lá, em datas especiais

Comemorar, não deu tempo
Tudo como combinado
O danado açougueirinho
Havia chamado a justa
Cansado de distribuir
Seu sangue rico e quentinho

Já era agora um ricaço
Era só pra o mundo voar.
Aos pobres um bananaço
Com seus amigos gozar
A fortuna adquirida
Num casarão beira-mar

O Conde Drácula perdeu
Pro Filho do açougueiro
Acabou o sangue de graça
Nem seu condado viveu
Pegou seus fiéis morcegos
E foi sentar outra praça.

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