Ou o Lula ou a República.



Hezio  Teixeira



O eleitor que odeia o Lula erra. O eleitor que o ama incondicionalmente, também.

Se não fôssemos uma república, a luta pelo poder dependeria do ódio de uns e do amor de outros. O que aspira ao poder absoluto depende desses dois combustíveis. Sem ser odiado por uns, não teria contra quem lutar e sem ser amado por outros, não teria por quem lutar. Mas trata-se de sermos numa república.

Num sistema de governo republicano, eleitores livres escolhem entre candidatos também livres, numa eleição livre de preconceito, de amor e de ódio,  para um mandato com tempo determinado, com poderes limitados e com objetivos claros. Quando vota em quem ama, o eleitor tende a deixar de lado a avaliação fria e realista dos seus atributos intelectuais e morais, sua liderança e submissão à lei, seu equilíbrio emocional e seu compromisso com a verdade, seu espírito republicano e sua visão de estadista. Quem odeia, igualmente.

Outro pilar da república é a existência de leis e a observância delas. Quem não se submete à lei sujeita-se às penas dela. Para aplicação justa da lei, tem-se o poder judiciário. Se o condenado discorda da sentença, recorre a um colegiado de juízes, discordando desses, recorre à instância superior, até o limite. Quando os recursos não são meramente protelatórios e o processo é célere, estabelece-se logo a normalidade. Mas quem ama quer o seu herói livre, independente de ele ser culpado e quem odeia, do mesmo modo o quer preso.

Amar incondicionalmente ou odiar um político é considerar que ninguém além dele ou que qualquer outro, não ele, pode salvar a pátria. E uma pátria republicana não pode depender de um de seus cidadãos, exclusivamente para salva-la.  Isso é menosprezar a República.

Hoje, temos de direcionar nosso direito de votar para a manutenção da vida republicana no seu mais amplo sentido. Quem quer o Lula eleito, que mostre seu arrazoado e quem o não quer, igualmente.
Eleitor consciente vota no melhor. Cidadão consciente respeita as leis. Odiando ou amando incondicionalmente um candidato, o eleitor dá a ele todas as condições de tornar-se um déspota ou um tirano vingativo. E esse risco, não nos convém correr.


Que cada um decida: ou a República é maior do que o Lula ou é a República é menor do que ele.

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