O verdadeiro poder pertence ao povo.
Se a população entra em desacordo, e algum desentendimento gera discórdia coletiva, mas as autoridades estão em harmonia e os poderes da República em equilíbrio, tudo se resolve dentro da lei, sem maiores consequências. A interveniência do poder público para resolver os problemas dos cidadãos é natural e desejável.
Se o poder público perde seu rumo, de quem deve-se emergir a solução? Do povo, naturalmente, porque do povo emana todo o poder numa democracia.
Há, no entanto, um gargalo quando a coisa desanda, de difícil solução: autoridades ou em pé de guerra ou em conluio, não dando o devido crédito ao preceito constitucional "todo poder emana do povo" e não ouve, não vê e portanto não atende ao desejo do soberano de uma nação democrática, o povo.
Qualquer pessoa minimamente atenta e esclarecida há de convir que neste momento, o Brasil está em pé de guerra. Mas não é o Brasil de cá, da população; não se trata de desavença generalizada no país inteiro. Trata-se do Brasil de lá, dos que ocupam o poder, tanto os eleitos quanto os indicados, indo resvalar nos concursados, em muitos dos casos.
A "guerra de narrativas" é um mal que sempre precedeu as guerras entre nações. Negociações bem sucedidas, baseadas na sinceridade de ambos lados, tendo como justificativa a verdade e como argumento pacificador a humildade esvaziam as guerras. Do mesmo modo, internamente, os nacionais infelizes por ser governados, julgados, legislados e assistidos por pessoas sem compromisso com a verdade, que cultivam o prazer de agredir-se mutuamente, entram em pé de guerra e levam-nos com eles. Temos, ainda, os oportunistas descarados, péssimos conselheiros, que buscam levar vantagem, quando a desordem se instala.
É necessário lembrar que uma desordem como a que estamos vivendo no Brasil não surge do nada. É fruto, pelo contrário, de um processo lento, gradual que atende a interesses de pessoas, de grupos, de empresas e de países que raramente podemos identificar no início. E, pior, quando o povo está sempre alijado do processo de decisão, paga, no fim das contas, o pato, sem ser culpado. Se uma culpa pode ser atribuída ao Brasil de cá é votar erradamente, mas para que um eleito não provoque a desordem, há a lei e os mecanismos de fiscalização e de punição.
No Brasil está clara a constante prática do desrespeito, do jogo de interesse, das vaidades pessoais e da ânsia de poder por parte das nossas autoridades. Vivemos numa guerra política e jurídica praticada, por enquanto no campo das narrativas, sempre mentirosas, sempre desonestas. E esse desrespeito instalado nos poderes da nossa República é uma sangria nas veias da normalidade democrática que nos levará a consequências drásticas, se a não fizermos cessar, urgentemente.
Não nos iludamos, o povo é o Brasil que detém o verdadeiro poder
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