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Mostrando postagens de janeiro, 2009

MÃE

Não há quem possa saber Se mãe é gente ou divindade. Numa hora é uma mulher divina, Na outra é uma deusa encarnada.

DESCARTE

Olhos de boneca de pano, Finda da infância a alegria pura, Agonizam ante o abandono. Sem ter vivido, fartos de candura. No papel ao cesto descartado, Amor findo, eterno declarado. Grãos de sabedoria medrada, Debulhados, vítimas da soberba. O tilintar do brinde ecoa, ainda. E a taça, finda a festa, margeia. A forte fé do ontem vencedor, Hoje, no descrente, é fétido suor. Feitas de matéria idêntica, A amizade e a cumplicidade, Vão-se com a ventania Da intriga e da vaidade.

Esperança

Dum vôo cadenciado, Pousou a esperança Nas costas do inverno, Prenunciando doce primavera. Galhos infirmes. Folhas mortas maceradas. Sobre o solo frio, suave, serenou. Persistente, inda mais serenou. Alma dorida sob a massa putrefata. Desperta, a semente revive. Clareiras aurifulgentes. Milhões de gotículas irisadas. E ela, esplendorosa, Amável consciente. Sedutora inconsciente. Ausente motivará constante chorumela.

Sonhando com ela...

Imagino sua doce companhia Luz se dissipando na folhagem. O sol se pondo, numa forma esguia. Sua imagem no jardim retrata. Encarnada trama sob os cristais sugere Do entardecer gozar a quietude. Sorrir, brincar mostrando a alma. Dormir, sonhar, acordar pra vida. Dum tinto, o degustar inebriado. Por mim, eu levaria assim a vida, Eu, você e, atrevida, a luz da lua. Nos vendo pelas gretas do telhado. Um cheiro feminil m'invade o olfato Aguça o paladar, refina o tato. Extasiado toco-lhe a pele. E a bebida lentamente desce. Ferve o sangue, súbito a casa doura. Em taça límpida, vítrea, transluzente, Sedento, extenuado bebo a vide. Nas curvas do seu colo derramada .

Sonhos

Dos muitos sonhos que tive, Pouco se me deu realizar. Meus sonhos mais sonhados, Foram sonhos de sonhar. Sonhos meus mais sofridos, Não os pude renegar. É que sonhos mal sonhados, Obrigam-nos a sonhar. Os meus sonhos mais festivos, Não posso comemorar. Nos meus bem sonhados sonhos, Veio o dia me acordar. Sonhos que me sonharam, Não fui eu a os sonhar. São sonhos doutros sonhos, Nunca irei rememorar

CONSIDERANDO

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A poesia é um calidoscópio a mostrar-nos novas e reais possibilidades. O poema é a morte da poesia ... é semente lançada. Alguns a cultivam, outros ignoram ou até pisoteiam. Sempre que alguém lê, declama, tenta entender ou deixa-se emocionar por um poema, nasce uma nova poesia. E, muitas vezes, revela-se um novo poeta.

Liberdade

Paixões por eclodir na puberdade, Ilusões em mente, na mocidade. Aos trinta, a razão e a vaidade. Tanta desilusão na outra idade! Mergulhando fundo na paixão Mantendo a razão a pulso firme, Degustam-se os alfenins da ilusão. A liberdade é do amor a sanidade! Seja assim toda a vida um canto. Que nos faça a juventude longa. E a maturidade, da velhice o manto. Fugir da culpa, ao desejo atento Pousar sobre a silhueta da vida, Ao crepúsculo, um olhar de alento.

Candidato analfa

Caso verídico de pescador Em tempos de política miúda, em que pipocam as preciosidades, meu chefe, candidatíssimo a vereador de Rebinboca da Parafuseta, um primor de cidadezinha nas proximidades daqui, foi registrar sua candidatura. A caminho do cartório eleitoral eu, Dr. Miúdo, seu fiel secretário, preocupei-me com um detalhe que me pareceu da maior importância. Sabendo da cultura quase inigualável de meu poderoso chefe, provoquei-o recomendando a apresentação do diploma de curso superior, tantas vezes orgulhosamente alardeado, por ser a custo conquistado. - Chefe, aqui estão todos os documentos, faltando apenas seu diploma universitário. - Não se preocupe, pequeno ascessor, sou um homem de muitas letras, palavras e frases, mas nunca fui buscar meu diploma. A gente passa por lá, pela secretaria da adversidade e pega. Desempenhando fielmente meu papel de secretário particular do poderoso Doutor Xavier, ri, sabendo que ele trocava as palavras com a risível seriedade de quem está certo n

Um certo homem certo

Pássaro Azul

Sabino Horta Um sobrevivente retrocedia o ano moribundo Cruzando o abismo que cada um cria Entre os dissabores do ontem E as incertezas do amanhã. Saltou-lhe o coração no peito, Afunilou-se-lhe a perspectiva ... Quase desmoronou Após sobrevoar os limites da alcova Um pássaro anilado agarrou-se a uma superfície Fitando-o com humilde superioridade: És tolo. Jogas tua sorte ao vento. O titubeante meditabundo Comprimiu as pálpebras e aguçou os tímpanos. Enquanto ambos oxigenavam-se, O mensageiro alado balbuciou: As dores que teu corpo sente E as aflições que te acamam Vêm de tua imaginação crente De que viver é sortilégio. Crê no amanhecer. Crê no florescer. Crê nos amores. Crê no perene fervor da juventude, Pois que a era humana, ante o céu, é ínfima. Crê que o destino que para ti defines Importa mais que todos os preceitos. Crê que de Deus o infinito favor é, Dentre todas, a glória de maior ledice. Quem mantém o coração em sobriedade, Maior fortuna tem do que o mundo aos pés. Quem pratic